domingo, 9 de dezembro de 2012

Tapa na cara

Ele desceu do ônibus e levou logo um tapa
Sem saber de nada, foi levado à delegacia
Não entendia,
Viu que com a bofetada, sua bexiga esvaziou na calça,
Foi detido, talvez, porque cheirava a cachaça

Foi levado à delegacia por um engano,
As roupas rasgadas da labuta
O denunciavam como morador de rua
E se fosse? Não ficaria tão descontente,
Estaria talvez acostumado com a estranheza dessa gente

O delegado, todo alinhado, perguntou pro homem que estava esfarrapado
"Me diz o que você procurava!"
O moço assustado respondeu "Nada, só voltava pra casa"

Sem saber o que fazer, o homem tentou se defender
"Senhor delegado, tomei cachaça enquanto prosiava, não sabia que é preso quem fica na farra"
O delegado mal sabia, que ali na sua frente havia um mestre
Se tornou mestre porque muito conhecia
Sabia do mundo, sabia da vida
Sabia tanto, que preferiu se calar pra não prolongar os tapas durante o dia

A mulher que o denunciou, achou que era ladrão, assassino, estuprador,
Ela o julgou pela aparência,
Pelas roupas de trabalho e pela sua cor
Mal sabia ela, que esse homem era seu vizinho,
Morava ali, bem pertinho
Mal sabia que era mestre de obras, que muitas casas ali ele ergueu
Que com o suor dele, aquele bairro cresceu

Descoberto o mal entendido, o homem, antes julgado bandido
Pôde ir embora, meio atordoado
A denunciante sem razão, pediu desculpas
Ele ,com o tapa estampado na cara,
Acompanhou a moça que depois nada falou, ficou calada

Ele com a camisa esfarrapada,
O bafo de cachaça,
Com o corpo suado e a calça molhada,
Percebeu que do mundo muito sabia,
Mas dos homens, não conhecia nada.


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